Uma de minhas atividades prediletas fora da mesa da “firma” é escrever poesias, mania que carrego desde os tempos de escola primária. Mas cordel é diferente.
Escrevi meu primeiro cordel em 2004, motivada pelo mote do 2°. Concurso Paulista de Literatura de Cordel: “Cotidiano metroferroviário de São Paulo” com 32 estrofes e em septilha. E não é que fui uma das vencedoras? A única mulher, aliás.
O livrinho com os cordéis vencedores vem sendo distribuído desde então em diversas escolas estaduais e municipais do Brasil, o que me causa muito orgulho.
E é com esse orgulho que aqui compartilho meu
“Trilhando a vida em São Paulo”:
Para entender São Paulo
Ao Passado vamos voltar
Gente de outra nação
Nova Pátria vem buscar
Outras da mesma nação,
Em busca de novo chão,
Vem a São Paulo somar.
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Desembarcando no Brás,
Alguns vindos lá do Norte,
Da aridez da caatinga
Quase escapando da morte,
Em busca de novo rumo,
Tentando achar o seu prumo
No Brás encontram seu norte.
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Achando no berço Brás,
Munição para o progresso,
Junto ao povo paulista,
Todo esse povo ingresso
Trabalhando de maquinista,
Ou em profissão de artista…
Aceita inté no Congresso.
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As fábricas todos os dias
Não paravam de apitar,
Chamando seus empregados
Pro trabalho começar.
Ia o povo contente
Enfrentar o seu batente
Para o salário ganhar.
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Mas, no final da semana,
Só queriam descansar
Os maquinistas dos trens
Também queriam folgar
Naquele bairro animado
Folguedos pra todo lado
Bom baile pra maxixar.
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As cadeiras nas calçadas
Comadres a chiachierar
Sobre o namoro da filha
Marido não quer falar.
Conselhos que não faltavam,
As rezas que não falhavam
Para o marido aceitar.
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Na taberna lá do lado,
Na caderneta anotado
Cebolas, batatas e óleo
Num canto atordoado
Corinthiano pensando
Um palmeirense lembrando
Daquele jogo danado.
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Os trilhos da Ferrovia,
Naquela paragem Brás,
Daquele, povoamento
Onde encontrei minha paz,
Rua era o centro de tudo,
Lua me deixava mudo
Naquela noite fugaz.
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Tempo bom daquele Brás
Daquela Estação de Trem,
Que muito progresso trouxe,
Além de muito vintém,
Alegria e muito sonho
Pra aquele povo risonho
Naquele seu vai-e-vem.
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Hoje, depois de alguns anos,
O trem, quando passa, sente
Miséria prá todo lado,
Muita área decadente,
Mas firma sua viagem
Com muita cumplicidade
Com toda aquela gente.
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Sem preconceito de raça,
Nem de credo nem de cor,
Leva negro, branco, índio,
Leva pobre e o doutor,
Leva todo o abandono,
Leva pessoas sem dono,
Levando com muito amor.
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Leva o camelô sem jeito,
Aposentado tristonho,
Moço que procura emprego,
Quem vai em busca de sonho,
Leva a moça extravagante,
Executivo elegante
E todo o povo risonho.
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Ocorrem coisas hilárias
Dentro de um vagão de trem.
Perguntem aos funcionários
Quem foi que brigou com quem,
Da paquera descarada
Da moça que deu palmada
Em quem encoxava alguém.
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Roubos na bilheteria
Fazem da vida do trem
Corre-corre que agonia,
Sem poder encontrar ninguém.
E aquele mendicante,
De estória interessante,
Sempre alugando alguém.
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E aquele assaltante,
Que virou inté militante
De tanto assaltar o trem,
Amizade interessante
Naquele vagão pai d’égua
Que caminha muitas léguas
No seu passo incessante.
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Sempre vai seguindo em frente,
Levando todo meu sonho,
Desesperança também,
Do desemprego medonho,
Daquela falta de grana
Que não dá nem para a Brahma
Daquele dia enfadonho.
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Cumplicidade perfeita,
Canta o trilho do trem,
Pingente na empurra-ajeita
Querendo cantar também,
Espaço do outro invadindo
Num gesto vadio vai indo
E não vem se foi já vem.
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É no balanço do trem
Que eu até sonho acordado,
Com o sertão da minha terra
Que sonho belo, encantado
Esqueço da ingratidão,
Do emprego e do patrão,
Por quem sou tão maltratado.
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Hoje se chega no Brás
De Metrô, mesmo de trem,
Sensação de liberdade
Congestionamento? Sem
A geração trem-Metrô
Esse bairro integrou
Mooca, Pari e Belém.
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Trilhando a vida em São Paulo,
Dentro de um vagão de trem,
Multidões nas plataformas
E eu não conheço ninguém.
Cuidado, escada rolante!
Depois de um dia estafante
Eu vou trilhando também.
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Os Metro-ferroviários
Se juntam ao cidadão,
Ajudando os passageiros
Não só na baldeação,
Na segurança, limpeza….
Conduzindo com firmeza
Parando só na Estação.
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A velha Estação do Braz
Centenária e atual,
Unindo trem e metrô
Marrom, cor original.
A porta da Estação
Usou na restauração
Jatobá, que é natural.
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Tombada hoje está
Antiga Estação do Braz
Tem história prá contar
Quem não se lembra rapaz?
Hoje, com especialistas
Conscientes e ativistas
De soluções estão atrás.
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Estudando a cidade,
Olhando através dos planos,
Estudando com firmeza
O que causa tantos danos.
É o mundo industrial?
Ou função comercial?
Que dirão os outros anos…
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Preservar ao patrimônio,
Trabalho fundamental,
Pois o cerne da Metrópole
É a sua área central,
Pois o centro da cidade
É a sua identidade
Merece atenção especial.
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450 anos,
São Paulo é mundial!
Centro não é só histórico,
Mas é multifuncional,
Com requalificação
Vai poder ter expansão
Integrando área central.
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Essa grande integração
Vai o centro estruturar,
Na convergência de linhas,
Trem e Metrô vão se ligar.
Projeto de integração
É bom prá população
Todo o centro alcançar.
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Vou de trem vou de metrô
Em São Paulo trabalhar,
Usando a cidadania
Vou poder até estudar,
Sem o trânsito perverso,
Vou atrás do meu progresso
E São Paulo ajudar.
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Vou de trem, vou de metrô
Por São Paulo passear,
Sensação de liberdade
Poder São Paulo explorar,
Sem ficar congestionado
Nesse trânsito danado
E a vida festejar…
Atualização em 22/01/2010: Fiquei contente em ver este cordel divulgado no Blog Independente Metrô de São Paulo. Agradeço ao Marcos Carvalho pela gentileza.